A inteligência urbana é uma aplicação da ciência de dados para o planejamento urbano e para o mercado imobiliário

A plataforma Inteligência Urbana concentra nossa oferta de serviços, tais como estudos e projetos de arquitetura, urbanismo, engenharia legal e avaliação de imóveis, além de disponibilizar páginas com referências para livros, cursos e leis e normas relacionadas aos temas que tratamos aqui.

No blog Inteligência Urbana, abordo temas com os quais eu trabalho e estudo e eventualmente um pouco do que eu penso, e neste 30º artigo vamos tentar definir o que é Inteligência Urbana, o conceito em torno do qual se concentram as nossas séries de artigos e também os serviços que oferecemos.

O que é Inteligência Urbana?

Sumário do artigo

Introdução

Quando falamos em Inteligência Urbana estamos nos referindo a um conjunto de processos, ferramentas e serviços relacionados ao planejamento e ao desenvolvimento urbanos que utilizam dados para produzir informações. A Inteligência Urbana inclui campos e ferramentas tradicionais da arquitetura, do urbanismo e da engenharia, tais como a avaliação de imóveis, a engenharia legal e diagnóstica e os diferentes tipos de estudos de viabilidade, mas que se multiplicaram e ampliaram seu poder devido à emergência da ciência de dados (ou Data Science, para quem prefere o anglicismo) que se deu a partir de desenvolvimentos tecnológicos mais recentes, na medida em que se multiplicam fontes de dados oriundas da utilização de diversos serviços, que podem ser úteis para auxiliar a planejar e monitorar a infraestrutura, os serviços e a política de uso do solo das cidades, dentre outras coisas.

Conceitos

A Ciência de dados - ou Data Science - é uma área interdisciplinar voltada para o estudo e a análise de dados econômicos, financeiros e sociais, estruturados e não-estruturados, que visa a extração de conhecimento, detecção de padrões e/ou obtenção de insights para possíveis tomadas de decisão.

A Inteligência de dados, mais especificamente, refere-se ao processo de transformar dados estruturados e não estruturados em informações, e integrá-las a sistemas ou softwares para que sejam visualizadas, analisadas e interpretadas e então possam subsidiar tomadas de decisões e/ou fazer estimativas e previsões.

A utilização de dados urbanos para alimentação de modelos que forneçam previsões e subsidiem decisões para o planejamento e gestão das cidades ou para o mercado imobiliário pode ser chamada de inteligência de dados urbanos, ou simplesmente de Inteligência Urbana.

Emergência de novas tecnologias

Embora a idéia de Inteligência Urbana “surja” a partir de ferramentas já tradicionais e relativamente antigas que produzem informação com a utilização de dados e que recebem uma “nova roupagem” a partir de uma força - tecnológica - capaz de anabolizar a musculatura destas ferramentas, até onde a Inteligência Urbana pode ir n- esteio da emergência da Ciência de Dados e de tecnologias relacionadas, tais como o Big Data e a Inteligência Artificial, sugere um horizonte muito mais amplo, com limites ainda indefinidos.

O Big Data, por exemplo, é o termo que trata sobre grandes conjuntos de dados que precisam ser processados e armazenados. Big Data, na prática, pode ser definido como um conjunto de técnicas, processos e ferramentas capazes de analisar grandes quantidades de dados que não poderiam ser processados e analisados com ferramentas “tradicionais” para a geração de resultados e produção de informações que, com volumes menores de dados, dificilmente seria possível. Objetivamente, Big Data envolve um conjunto de dados extremamente amplos que, por isto, necessitam de ferramentas especiais para que sejam encontrados, extraídos, organizados e transformados em informações que possibilitem análises amplas e em tempo hábil.

O Big Data, sobretudo no contexto urbano, está fortemente relacionado às Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC e, mais especificamente à Internet das Coisas - IoT, na medida em que uma série de novos dispositivos, além de equipamentos tradicionais do cotidiano, conectados e equipados com funcionalidades atreladas à internet, entendidos como objetos dotados de “internet das coisas”, geram uma grande quantidade de dados a partir do seu uso.

A Inteligência Artificial por sua vez é outra das “tecnologias” que encabeçam o que alguns chamam de “quarta revolução industrial” (SCHWAB; DAVIS, 2018). Uma solução de Inteligência Artifical envolve um agrupamento de várias tecnologias, como redes neurais artificiais, algoritmos, sistemas de aprendizado, entre outros, que sejam capazes de automatizar processos e de, em certo sentido, simular capacidades humanas ligadas à “inteligência”.

A inteligência urbana, estruturada nos modelos de Big Data e Inteligência Artificial, baseada na capacidade de as pessoas compreenderem a dinâmica das cidades pela conexão espacial de seus diferentes componentes, pode ser uma ferramenta fundamental para conseguirmos compreender como as cidades do futuro vão funcionar.

Uma série de outras tecnologias computacionais e descentralizadas também se mostram disponíveis para o planejamento e gestão de cidades e de negócios urbanos no contexto da inteligência urbana, tais como drones, blockchain, contratos inteligentes e criptotokens por exemplo (COELHO et al., 2020), além de outros campos do conhecimento, como a Sintaxe Espacial Urbana (HOSSAIN, 2012).

Além disso, é cada vez mais necessária e relevante a habilidade de pensamento espacial (MONTENEGRO, 2005) no ecossistema urbano do futuro, quando espera-se que tudo esteja conectado num ambiente de mobilidade e de fluxos dinâmicos. Num nível mais abstrato podemos compreender as cidades modernas como redes de espaços conectados e a inteligência urbana como o conjunto de ferramentas utilizadas para perceber como esses espaços são criados, como funcionam e como interagem entre si.

Neste sentido, toda informação relacionada com os espaços urbanos pode e deve estar disponível para governos, cidadãos e empresas, para que possam organizar suas atividades. No contexto das cidades, isso requer coleta de dados, atualização, análise e capacitação para gerenciar espacialmente informações e processos e, neste contexto, é o campo da Inteligência Urbana que envolve os atributos necessários para compreender as complexas relações de causa e efeito entre os locais conectados física ou digitalmente.

Novos conceitos

Neste contexto de novas tecnologias relacionadas a ciência de dados, a Inteligência Urbana pode vir a se configurar como um ecossistema de infraestruturas, processos e serviços que permite a criação de um “modelo digital” de um sistema real ou físico complexo, como uma cidade e seus vários sistemas e subsistemas, como transporte, distribuição de energia, uso da água, população, educação, saúde, patrimônio cultural, dentre outros, incluindo o espaço e contexto em torno da cidade.

O paradigma da Inteligência Urbana aproveita cruzamentos entre redes móveis, Internet das Coisas - IoT, modelagem de processos e inteligência artificial para aprendizagem e raciocínio, tendo em vista uma cidade na qual as infraestruturas tradicionais são coordenadas e integradas com o suporte de novas tecnologias digitais.

Pode-se dizer que este conceito ainda é bastante incipiente, e a maioria das propostas e modelos atuais de Inteligência Urbana com utilização de big data, inteligência artificial e outros recursos tecnológicos ainda são projetados para resolver problemas muito específicos, e portanto incapazes de fornecer generalizações eficazes.

Todavia, existe um potencial já aventado por muitos autores de uma abordagem unificada (CASTELLI et al., 2019), em que um “modelo digital” da cidade é organizado em camadas que cooperam e se reconfiguram para resolver os problemas atribuídos e subsidiar tomadas de decisões de alto nível por meio de uma abordagem multidisciplinar integrada e coordenada, através de uma arquitetura de Inteligência Urbana que permita a representação virtual de todos os sistemas e subsistemas da cidade, incluindo não apenas a infraestrutura, mas também os usuários da cidade e suas interações, uma espécie de plataforma de transformação.

Fluxos, espaços e atividades

O combustível que alimenta a inteligência urbana nas cidades é composto por dados e informações, que podem ser divididos em três categorias principais: fluxos, espaços e atividades.

  • Os fluxos estão relacionados à circulação de produtos, pessoas e dados;
  • Os espaços estão relacionados com densidade populacional, temperatura, qualidade do ar, iluminação, níveis sonoros etc;
  • As atividades das pessoas e as interações com o ambiente urbano completam os elementos fundamentais para alimentar os modelos de inteligência urbana, que são utilizados para planejar as cidades com pensamento voltado para a compreensão de seu metabolismo e estruturação espacial.

A dimensão espacial tem, portanto, um papel fundamental no contexto da inteligência urbana, uma vez que os fluxos e as atividades estão associados a locais específicos e, nesse sentido, podemos identificar esses processos como dramaticamente importantes para a estruturação das cidades como plataformas de transformação.

As mudanças que o conceito de plataforma de transformação podem trazer para as cidades significam uma verdadeira revolução no processo de planejamento e constituem-se em um instigante desafio para a utilização da inteligência urbana no pensamento espacial das cidades subsidiando o gestor público no processo de tomada de decisões (CHIUSOLI, 2019). Entretanto, não se deve perder de vista que cidades precisam ser participativas e justas, não apenas funcionais, otimizadas e controladas, e neste sentido o bom uso e o controle descentralizado de tecnologias, dados e infraestruturas é imprescindível para a gestão cooperativa da cidade inteligente do futuro, democrática e inclusiva (MOROZOV; BRIA, 2019).

Planejamento urbano e mercado imobiliário

No contexto do planejamento urbano público a inteligência urbana “acontecerá” quando quem governa o território for capaz de estabelecer estratégias que conduzem à construção da cidade como plataforma, criando as condições necessárias e suficientes para, tirando partido da gestão da informação e da ciência dos dados alavancada no big data e em outras tecnologias e campos do conhecimento relacionados, alterar radicalmente o paradigma de planeamento e gestão das cidades.

Neste conceito mais “completo” e ambicoso a inteligência urbana é ainda pouco mais que uma utopia, com todos os riscos e limitações inerentes, conforme já mencionado. Mas entendendo-a como uma “caixa de ferramentas” para a compreensão do funcionamento das cidades e fornecimento de subsídios para tomadas de decisões a Inteligência Urbana já é o presente. A avaliação de imóveis e os Estudos de Viabilidade e de Vocação Urbana e Imobiliária, por exemplo, quando utilizam as melhores e mais modernas técnicas com base na literatura e no arcabouço normativo atual são exemplos de aplicação de ciência de dados, e de inteligência de dados urbanos especificamente.

Tanto gestores público quanto agentes do mercado imobiliário, além de investidores, proprieários de imóveis e donos de redes comerciais tendem a utilizar cada vez mais práticas baseadas em evidências científicas em seu processo de tomada de decisão, e a maior parte destas práticas que envolvem o funcionamento das cidades integram o paradigma da Inteligência Urbana.

Processo

Tanto para o planejamento urbano público quanto para o mercado imobiliário ou de base imobiliária, tipicamente os processos de Inteligência Urbana envolvem quatro etapas essenciais:

  • Coleta de dados

    Busca sistematizada por dados que traduzam o crescimento urbano;

  • Análise e diagnóstico

    Avaliação da dinâmica urbana e descoberta de pontos nodais;

  • Definição de estratégias

    Geração de conhecimento aliado à expertise;

  • Planos e cenários

    Planejamento de cenários possíveis e definição de planos de ação.

Cidades são sistemas complexos, mas a utilização de dados, expertise técnica e tecnologia, aliado ao conhecimento acumulado nos campor do planejamento urbano, urbanismo, arquitetura, engenharia, gestão pública, dentre outros, pode ajudar a “conectar os pontos” e subsidiar a tomada de decisão sobre o que fazer em um terreno, onde é o local mais apropriado para determinado tipo de negócio ou equipamento e quais ações são necessárias para explorar ao máximo a vocação potencial do lugar.

Conclusão

Neste artigo tentamos definir o que é Inteligência Urbana, o conceito em torno do qual se concentram as nossas séries de artigos e também os nossos serviços oferecidos.

Além do blog, a plataforma Inteligência Urbana disponibiliza páginas com referências para livros, cursos e leis e normas relacionadas aos temas que tratamos aqui. Caso você tenha interesse pode conferir nossos serviços oferecidos e entrar em contato quando quiser. Se quiser ser alertado da publicação de material novo pode assinar a nossa newsletter, e muito obrigado pela atenção até aqui!

Principais referências